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Curso de Amostragem de Solo - 2018

No último mês de setembro/2018, fui um dos docentes de mais um excelente curso, promovido pela AESAS e pelo Centro Universitário SENAC e organizado pela Soldí Ambiental.
O tema do curso era Amostragem de Solo, que já foi o mote de muitos textos já escritos nesse espaço, como esse e esse.
Além de mim, foram docentes os professores: Nilton Miyashiro, da Engesolos e Silvio Almeida, da Eurofins. Foram três dias de muita conversa, trocas e quebras de paradigmas. Até o momento, as avaliações dos alunos foram extremamente positivas.
Os principais conceitos discutidos nesse curso foram:

- A amostragem de solo é a principal e mais importante ferramenta para investigação de áreas contaminadas;
- Além das amostras para análises químicas (obrigatórias para investigação do próprio solo como meio a ser diagnosticado), a amostragem de solo é essencial para a obtenção de informações sobre o meio físico, particularmente para identificar e delimitar as unidades hidroestratigráficas, que é outra tarefa obrigatória pela DD-038.  Ou seja, é preciso coletar amostras de solo para caracterização do meio físico;
- Sem uma correta identificação das unidades hidroestratigráficas, não é possível instalar poços de monitoramento de acordo com a NBR 15.495-1;
- É essencial, para a investigação, que sejam identificadas as zonas de fluxo e as zonas de armazenamento, e a forma mais simples e barata de fazer isso é com amostragem de solo;
- Como estamos falando em unidade HIDROestratigráfica e zonas de fluxo, obviamente trata-se da zona saturada. Portanto, é preciso amostrar o solo na zona saturada. Muitas vezes isso não fica claro, mas os três dias de discussão no curso reiteraram isso muito fortemente;
- Uma amostragem de solo representativa para profundidades maiores que 1,20 m não pode ser obtida sem revestimento e/ou sem cravação, portanto, trado manual e Direct Push com furo aberto (Single Tube) não funcionam adequadamente na maior parte das situações;
- Amostra de Solo representativa em profundidades só pode ser obtida por Dual Tube, Piston Sampler ou Single Tube revestido por Hollow Stem Auger. Cada uma dessas três modalidades apresentam vantagens e desvantagens de acordo com a situação;
- Durante a amostragem de solo, pode ser fundamental a variação das sapatas de amostragem, com diferentes diâmetros, ângulos e aberturas. Não dá para ir a campo somente com um tipo, pois a chance de não se obter amostras representativas é grande;
- Muitas vezes, é importante, especialmente em areias e na zona saturada, utilizar um dispositivo que segure as amostras dentro do liner. O dispositivo mais adequado para isso é o core catcher (também chamado de mola cesto ou de aranha)
- Para a coleta de amostras indeformadas, não é possível, em profundidade, utilizar o amostrador de Uhland, pois ele não tem as paredes finas o suficiente e porque ele tem um tamanho muito reduzido, que faz com que a sondagem prévia à coleta (seja com Hollow, seja com Direct Push) cause um distúrbio exatamente onde a amostra será coletada, portanto, não é indeformada;
- a Norma 16.434 prevê alguns tipos de preservação para análises de VOC em solo. Basicamente, podem ser utilizados: metanol, frasco hermético (EnCore ou Vial VOC), congelamento, ou sem preservante. Esse último, com prazo de 2 dias para realizar a extração;
- o mais adequado para áreas fonte, com altas concentrações, particularmente na zona saturada é o metanol. Porém, o uso dele é difícil e eleva o limite de quantificação para alguns compostos, então, a escolha do método de preservação deve ser muito bem alinhada entre consultoria, laboratório e empresa de amostragem;
- muitas vezes o liner não vem 100% cheio, por diversos motivos. Se o motivo mais provável for a compactação da amostra, é preciso distribuir essa compactação igualmente por todo o perfil. Por exemplo, se vier metade do liner de 1,20 m com solo, cada 1 cm medido no liner equivale a 2 cm na condição natural, portanto, essas profundidades devem ser corrigidas, tanto na seleção das amostras para análises químicas quanto para a descrição;
- a seleção de amostras para análise de VOC somente com base na análise com PID nos furos do liner leva a decisões erradas, pois há incerteza se o VOC medido naquele furo vem daquele ponto ou está migrando, ou ainda se acumulou em algum bolsão do liner. Para reduzir essa incerteza, é preciso aquecer as amostras, para que o VOC daquele ponto seja liberado e assim, adequadamente medido para proporcionar a melhor seleção da amostra (em breve artigo específico sobre isso);
- com o liner, além da descrição e da coleta para análise química, é possível fazer uma varredura vertical muito boa, seja de VOCs (furo no liner e/ou aquecimento), seja de hidrocarbonetos (luz UV-A), proporcinando uma boa investigação de alta resolução na área fonte a um preço acessível;

Todos esses conceitos foram exaustivamente discutidos, em sala e nas práticas, proporcionando a todos os participantes um entendimento muito sólido sobre o papel fundamental de uma boa amostragem de solo na investigação de áreas contaminadas.

Aguardaremos os próximos

Marcos Tanaka Riyis
outubro/2018

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