Pular para o conteúdo principal

Amostragem de Solo para Recuperação de Áreas Contaminadas

Esse texto, escrito em 2014, trata da importância da amostragem de solo dentro do processo de Recuperação, ou Revitalização, de Áreas Contaminadas, particularmente na investigação e elaboração do modelo conceitual. Já tratamos diversas vezes do assunto amostragem de solo, e dissemos que essa amostragem tem de ser Direct Push, e mais ainda, deve ser Dual Tube, ou Piston Sampler ou Single Tube revestifa por Hollow Stem Auger, ou trados ocos helicoidais. Em breve publicaremos um artigo sobre essas diferenças e sobre as limitações das outras metodologias. Para ler os artigos anteriores, tem esse, sobre o Curso que ministramos em abril/17, esse, sobre uma aula prática que auxiliamos justamente para ajudar a ressaltar a importância de uma boa amostragem de solo, e esse, um artigo muito lido no nosso blog que fala sobre o porquê de amostrarmos solo na zona saturada.

Esse texto foi originalmente escrito para a Revista Pollution Engineering Brasil. Como a revista foi descontinuada, vou republicar alguns textos aqui no Blog da ECD, com alguma revisão. Segue o texto, que trata da importância da Investigação dentro do processo de Gerenciamento de Áreas Contaminadas



A Revitalização de Áreas Contaminadas passa pela Correta Investigação do Solo

As áreas contaminadas são reconhecidamente um problema para a saúde humana, para o meio ambiente e para a economia, e por isso, devem ser recuperadas. Para utilizar um termo da área, elas devem ser “Revitalizadas”. E o que significa esse termo? Significa que a área, após passar por todo o processo de gerenciamento, está apta para o uso declarado, ou seja, os responsáveis (legal e técnico) explicitam oficialmente qual o uso pretendido para a área (industrial, comercial, residencial), e para cada uso há um nível de intervenção necessário. 
Esse processo de recuperação visa reduzir o risco à saúde humana a níveis aceitáveis, e não tornar a área “isenta” de compostos químicos. Para reduzir esse risco, pode-se, como medida de intervenção, eliminar a via de exposição do receptor ou eliminar o agente causador do risco. Como medida para eliminar a via de exposição, temos as medidas de engenharia e de controle institucionais, como, por exemplo, a impermeabilização do solo para eliminar o contato do receptor com solo superficial contaminado, ou a proibição do consumo de água subterrânea. Como forma de eliminar o agente causador do risco, normalmente procura-se reduzir a concentração de compostos químicos “nocivos”, através de alguma técnica de remediação. 
Seja qual for o processo de revitalização escolhido para a área, a elaboração do Modelo Conceitual, ou seja, o entendimento de como os contaminantes interagem com o meio físico em subsuperfície nas quatro dimensões (as três espaciais e o tempo) é a etapa mais relevante de todo o processo, pois é com base nesse Modelo Conceitual que a avaliação de risco é elaborada e a medida de intervenção é proposta. 
A elaboração do Modelo Conceitual passa, obrigatoriamente, por uma correta investigação do meio subsuperficial, em particular, do solo e suas heterogeneidades. Por correta investigação, entende-se coletar amostras representativas, em quantidade suficiente, nos locais corretos (horizontal e vertical), com as ferramentas corretas e analisar os parâmetros (físico, químicos, estruturais, etc) corretos. 
Vamos imaginar uma área onde há concentração de algum composto químico na água subterrânea e essa concentração, para um cenário declarado (por exemplo, residencial), gera risco à saúde humana. Uma questão básica e fundamental para qualquer medida de revitalização dessa área é saber qual é a massa total de contaminante. O modelo tradicional de investigação preconiza que essa massa é calculada multiplicando-se a concentração medida no poço de monitoramento pelo volume que representa essa concentração e pela porosidade do solo. Esse modelo considera um meio homogêneo, o que obviamente é um erro, pois: a concentração representa uma média da seção filtrante, não a camada mais contamina; o volume considerado é muito grande e heterogêneo para ser representado por aquela amostra; e principalmente, considerar que a porosidade da amostra coletada é representativa de todo aquele volume de solo é, certamente, um erro muito grande. Isso faz com que a estimativa da massa total seja tão boa quanto um “chute” qualquer. 

(OBS: Em 2015, apresentamos um trabalho no 15o CBGE que fala sobre a estimativa de massa. O trabalho pode ser acessado aqui, e foi premiado como o melhor trabalho do RESID)
  
Se nem a massa total de contaminante pode ser estimada adequadamente com essa abordagem, o que dizer da distribuição espacial, da velocidade de migração, dos caminhos preferenciais, da previsão de concentração futura e do risco? Ao desconsiderar a heterogeneidade do solo, o profissional que está elaborando o Modelo Conceitual está, na verdade, praticando um jogo de adivinhação. 
Observa-se que, nesse exemplo, embora o risco venha de uma concentração de contaminante identificada na água subterrânea, é o solo que determina a distribuição e migração desse contaminante em subsuperfície, e, portanto, é o solo que deve ser investigado corretamente. Desta forma, se faz necessário, para que a revitalização da área ocorra de modo adequado, que a investigação leve em conta que o meio subsuperficial é extremamente heterogêneo, e essa heterogeneidade deve ser identificada, com ferramentas adequadas e dando a devida importância à amostragem de solo, a única forma de se obter dados representativos do que é a maior fonte de incertezas de toda a investigação. 
A investigação errada do solo pode fazer com que o custo ou tempo de revitalização da área esteja superestimado, ou, pior ainda, pode fazer com que seja declarada reabilitada uma área que, na verdade, ainda representa risco à saúde humana. E, avaliando os trabalhos realizados no passado à luz do conhecimento que se tem hoje, pode-se dizer com pouca probabilidade de erro que são raras as investigações conduzidas corretamente, portanto, as reabilitações custaram caro demais ou não foram adequadamente realizadas. 



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ensaios Hidrogeológicos - Slug Test e Bail Test com Transdutor de Pressão

Dando continuidade com a idéia de modernização dos seus equipamentos e tecnologias, a ECD conta agora com um Transdutor de Pressão da Solinst , para auxiliar em seus serviços de Slug Test ou Bail Test, que são ensaios hidrogeológicos para a determinação da condutividade hidráulica de um aquífero. As equipes da ECD, seus Engenheiros, Técnicos e Estagiários foram treinadas na utilização dessa ferramenta que proporciona um ensaio com mais confiabilidade e feito com muito mais rapidez, diminuindo muito o tempo da equipe em campo, tanto da ECD quanto da Consultoria Ambiental contratante. Serão enviados os dados brutos e, caso necessário, uma interpretação inicial através do Software do fabricante. Maiores informações sobre a possibilidade de uso do aparelho podem ser vistas no site do fabricante A ECD sempre pesquisando novos equipamentos e serviços para melhorar a qualidade nos serviços de Investigação de Áreas Contaminadas. Para maiores informações, basta entrar em cont...

Sua Majestade, o Poço de Monitoramento

Durante o Gerenciamento de Áreas Contaminadas (GAC), muitas decisões devem ser tomadas, em muitas etapas. A área está contaminada ou não? Existe risco à saúde humana? Precisa ser remediada? Como? Atingiu as metas de remediação? Está reabilitada para o uso pretendido? Posso colocar pessoas para morar lá? São questões muito importantes social, ambiental e economicamente e devem ser respondidas após coleta e interpretação de dados da área. No Brasil, na imensa maioria das vezes, possivelmente em mais de 90% das situações, os dados que embasam essas decisões vêm de um único instrumento: o poço de monitoramento, personagem de maior veneração de toda a cadeia do GAC. Por isso, pode ser chamado de "Sua Majestade". Mas: de onde vem essa veneração? A resposta é complexa, mas vou aqui emitir a minha opinião: a veneração vem da tradição incrustada em toda a cadeia do GAC (Consultorias, principalmente, mas também poder público e grandes Responsáveis Legais como distribuidoras de pe...

Amostragem de Solo - Metodologias

Vários amigos leram o meu artigo anterior, sobre o papel da Amostragem de Solo na Investigação de Áreas Contaminadas , e pediram para eu desenvolver um pouco mais os detalhes de qual modalidade de amostragem de solo deve ser utilizada para cada situação. Quem leu o artigo anterior e outros textos meus já deve ter se convencido que a amostragem de solo é a etapa fundamental da investigação de áreas contaminadas, que ela deve ser feita inclusive na zona saturada, que ela é obrigatória para instalação de poços de monitoramento e que ela deve ser feita preferencialmente por Direct Push com liner . Vou tentar aqui desenvolver o porquê disso e qual modalidade de Direct Push se adequa melhor a cada ocasião. Inicialmente, olhando para uma situação mais simples, que é a amostragem do solo superficial, até 1,0 m de profundidade, pode-se dizer que praticamente toda metodologia e ferramenta consegue coletar amostras representativas, variando um pouco apenas de acordo com o objetivo e com ...